terça-feira, 10 de maio de 2011

As Bolsas de Valores 02

História
JAMQ
Ação da Companhia Holandesa das Índias Orientais
          Os mercados de títulos levaram séculos para se desenvolverem. A idéia de débito, um dos requisitos para o estabelecimento das bolsas, data do mundo antigo, conforme evidenciam, por exemplo, as placas de argila da antiga Mesopotâmia que registravam em suas gravações empréstimos e o rolamento dos seus juros.
          No entanto há pouco consenso sobre o momento exato em que surgiu a primeira bolsa de valores. Vários registros apontam para diferentes datas que, se não apontam com precisão o estabelecimento exato de uma bolsa de valores, já indicam os passos e estágios até a sua formação.
          Na Roma Republicana, que existiu séculos antes da fundação do Império Romano, haviam as societas publicanorum, que eram organizações de empreiteiros e arrendatários que prestavam serviços para o governo. Os integrantes dessas organizações tinham “cotas” ou “ações”, conceito mencionado várias vezes por Cícero.
          Em um de seus discursos Cícero diz: “cotas que tinham um elevado custo à época.”. Isso evidencia que esses instrumentos eram negociáveis e tinham valores flutuantes de acordo com o sucesso das organizações. As societas, no entanto, se perderam nos tempos imperiais quando os serviços eram diretamente executados por agentes do Estado.
          As negociações de ações e outros títulos foi se desenvolvendo através dos séculos, com registros de trocas nas cidades Italianas medievais e na Renascença.
          Na República de Veneza, em 1171, para evitar o esvaziamento do Tesouro, o Estado tomou empréstimo forçado junto aos cidadãos pagando uma taxa de 5% ao ano pela dívida, que ficou conhecida como prestiti. Apesar de inicialmente mal recebido, começou a se estruturar em torno desses papéis um mercado que via os títulos como um investimento lucrativo. Assim se iniciou a venda de títulos da dívida pública.
          De 1262 a 1379, Veneza nunca atrasou um pagamento sequer, solidificando definitivamente a credibilidade dos novos instrumentos de capitação de recursos. Outras cidades-estado italianas como Florença e Gênova também começaram a emitir títulos que foram largamente negociados na Itália e além, processo facilitado por banqueiros como os Médicis.
          A estabilidade financeira dessas negociações foi afetada e muito pela guerra entre Veneza e Gênova, que forçou as duas cidades a suspender o pagamento dos prestiti por volta de 1380. Quando o mercado foi re-estabelecido o interesse era bem menor e o valor dos títulos também.
          Outros eventos, como a Guerra dos Cem Anos e a Peste afetaram profundamente a estabilidade financeira, mas, ainda assim, a idéia de negociação de títulos e seguros como investimento se solidificou.
          A vanguarda das inovações comerciais se deslocou, então, da Itália para o norte da Europa, quando a Liga Hanseática, que era uma aliança de cidades mercantes como Bruges e Antuérpia, começou a estabelecer casas para agilizar o comércio.
          Aí surgiu o termo ‘bolsa’ como sinônimo de ‘mercado de valores’. Acredita-se, apesar da imprecisão da informação, que esse termo se deve ao fato de os comerciantes irem com sacos (do latim ‘bursa’) com dinheiro para a casa de um homem chamado Van der Burse.
          Por volta de 1500, os comerciantes britânicos começaram a trabalhar com companhias de ações conjuntas para operar permanentemente, uma dessas companhias foi a Companhia da Moscóvia que objetivava negociar com a Rússia fora do domínio hanseático.
          O próximo passo foi o estabelecimento da Companhia Holandesa das Índias Orientais em 1602, na bolsa de Amsterdã. Os historiadores apontam, predominantemente, esse marco como o surgimento efetivo das bolsas de valores.
          Na Companhia Holandesa das Índias Orientais, formada para o comércio de especiarias, os acionistas não tinham poder de decisão, poder este que era exercido pelos diretores da companhia. Entretanto, apesar de não influírem no gerenciamento nem terem acesso às contas da companhia, os acionistas eram muito bem recompensados pelos seus investimentos, de acordo com o volume das suas cotas. A companhia pagava aproximadamente 16% ao ano entre os anos de 1602 e 1650!
Desenho humorístico sobre a operação nas bolsas de valores
         Outras inovações financeiras lançadas em Amsterdã incluem a formação do primeiro sindicato, que, apesar da sua coordenação, falhou na tentativa de baixar os preços das ações e a primeira oferta de bônus coorporativos, em 1620. Surgiram, também, os mercados de negociação de commodities e as ferramentas de opções de compra, acordos de recompra e margem de negociação.
          Em 1688 foi publicado o primeiro livro sobre mercado de ações e bolsas de valores, escrito por Joseph de La Veja, o livro chamava-se A Confusão das Confusões. A publicação de Joseph de La Veja auxiliou a disseminação das técnicas financeiras de Amsterdam para Londres, possibilitando a modernização das finanças inglesas e ajudando a custear as guerras daquela nação.
          Uma das maiores bolhas financeiras da história ocorreu nas décadas seguintes, em 1711, envolvendo as companhias que regiam o comércio inglês para a América do Sul (Companhia Marítima do Sul) e o financista escocês John Law, que agia, também, em nome do Banco Central Francês.
          Os investidores, motivados pela crença nos lucros que viriam das duas companhias, buscaram freneticamente as ações gerando uma variação absurdamente alta e artificial do valor das companhias.
          Esse aumento estava gerando lucros e vantagens para os investidores, mas sem nenhuma solidez ou correspondência com os valores reais das duas companhias. No final do mesmo ano os preços das cotas entraram em colapso quando começou a ficar claro que as expectativas com os lucro provenientes das Américas estava superfaturado.
          Em Londres, o Parlamento aprovou a Lei de Bolha, que estabelecia que apenas as Companhias regiamente fretadas poderiam emitir títulos públicos. Em Paris, John Law foi destituído do cargo e fugiu do país.
          Esse fato minguou os negócios nos mercados de valores nas décadas subseqüentes e, como efeito positivo, demonstrou a necessidade de regulamentar os mercados financeiros para preservar sua credibilidade e assegurar o seu funcionamento.
          As bolsas de valores, no entanto, já eram um conceito formado, amadurecido e solidificado. As negociações de títulos e ações sobreviveram e em 1790, já ocorriam negociações de ações no então jovem EUA. Nos EUA, em 1971, começa a operar a primeira bolsa de valores eletrônica, a NASDAQ (Associação Nacional de Negociadores de Títulos de Cotação Automática).
          Na próxima postagem, vocês verão como as bolsas de valores se desenvolveram no Brasil.

          Veja as outras postagens sobre o tema: Parte 1Parte 3, Parte 4, Parte 5 e Parte 6

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